O Reino, a Igreja e o "Mundo Que Há de Vir"

A grande Virada — Novas Direções Doutrinárias

Setembro de 2010: O ministério que havia produzido até então uma terrível divisão no espírito e na prática, estava prestes a sacramentar e assumir de vez também a divisão nos ensinamentos.

A "grande Virada", como ficou conhecido entre muitos irmãos do nosso meio, foi um esforço, extremamente bem-sucedido, para alterar a visão sobre a Igreja e o Reino dos Céus, promovendo uma nova doutrina, diferente do que é ensinado no ministério neotestamentário, e que diminuiu a importância da igreja. Tal mudança produziu impactos profundos na espiritualidade dos crentes.

A partir da conferência internacional de setembro de 2010, passou-se a afirmar que o foco de Deus estava no Reino dos Céus, que chegaria no "mundo que há de vir", e não na igreja, o que induziu-nos a uma separação artificial entre igreja e Reino, enfraquecendo a percepção de que a igreja é hoje a realidade do Reino dos Céus. A igreja foi rebaixada a mero meio para alcançar o reino do “mundo que há de vir” — onde reinaremos com o Senhor, e onde, segundo essa nova ênfase, deveria estar totalmente o nosso foco. Com isso, o irmão Dong e seus cooperadores diluíram significativamente a visão da igreja entre os santos, apresentando com grande ousadia essa mudança como o "avanço de Deus" por meio do apóstolo da era.

A questão aqui é clara: se já não havia mais unidade com as igrejas — o Corpo de Cristo em toda a terra —, manter o foco na igreja como a realidade presente do Reino dos Céus, e continuar promovendo um falar abrangente sobre a visão da igreja, poderia despertar muitos irmãos para a grave realidade do desvio e da divisão produzidos por esse ministério no Brasil e na América do Sul.

Assim como o projeto Bookafé atuou como uma forte distração para os santos quanto à prática genuína da vida da igreja, também foi necessário produzir uma distração e mudança significativa no ensinamento, no foco e na visão dos santos.

Impactos Propositais da Alteração Doutrinária nos Crentes

As mudanças doutrinárias impactaram negativamente a visão e a prática dos crentes, resultando em uma visão desconectada. Os crentes passaram a ver a igreja como algo secundário e a esperar por uma glória futura.

  1. Crentes passaram a desvalorizar a igreja como realidade do Reino no tempo presente, tornando-se passivos e dependentes de líderes.
  2. A expectativa de um Reino futuro gerou uma espiritualidade escapista, negligenciando a responsabilidade presente.
  3. A estagnação, a divisão e outros ensinamentos diferentes passaram a ser mais facilmente tolerados.

A Substituição do Corpo de Cristo por uma Obra Oficial

A nova doutrina levou à marginalização de outras expressões genunínas do Corpo de Cristo em toda a terra, criando um espírito sectário e diminuindo a visão de unidade. A igreja passou a ser vista como uma estrutura hierárquica em vez de uma família unida e viva.

Nesse ponto, é importante relembrarmos a visão genuína a respeito do Reino e da Igreja que ganhamos no passado, da qual fomos desviados, e que está em conformidade com o ministério neotestamentário, reconhecida, confessada e mantida por todas as igrejas em âmbito universal.


O REINO E A IGREJA

Todo reino é composto por três elementos fundamentais:









No entanto, além dos aspectos visíveis, há uma realidade mais profunda que sustenta qualquer reino verdadeiro: uma unidade essencial entre os membros desse reino, baseada na mesma vida e na mesma natureza. Assim como nos reinos biológicos, em que os seres compartilham a mesma essência — por exemplo, para que um ser faça parte do reino dos gatos, ele precisa ter a vida e a natureza de um gato — o reino de Deus também se estabelece sobre essa unidade vital.

Os diversos reinos existentes na Terra ilustram com clareza esse conceito. Biologicamente, existem cinco grandes reinos: animal, vegetal, fungi, protista e monera. Para fazer parte do reino animal, é necessário possuir a vida e a natureza dos animais. Da mesma forma, para integrar o reino vegetal, é preciso ter vida e natureza vegetal. O mesmo princípio se aplica ao reino fungi, que reúne os seres com a vida e a natureza dos fungos; ao reino protista, composto por organismos eucariontes como as algas; e ao reino monera, que inclui seres microscópicos procariontes, como as bactérias.

Portanto, é evidente que, para fazer parte do reino de Deus, é necessário ter a vida e a natureza de Deus — embora isso não signifique ter Sua deidade. O que nos torna cidadãos desse reino é o fato de recebermos Sua vida por meio do novo nascimento.

Podemos concluir, então, que um reino está intimamente ligado à vida. Ele é a esfera onde determinada vida pode agir, reinar e governar, a fim de cumprir o propósito para o qual foi designada.

Na história da humanidade, algo que também se estabeleceu como princípio fundamental — e que igualmente sempre sustentou todos os reinos verdadeiros — é a comunhão de vida e natureza entre o rei e o seu povo.

A Comunhão de Vida e Natureza entre o Rei e Seu Povo: Fundamento de Todo Reino Verdadeiro

O REI

Ao longo da história da humanidade, um princípio silencioso, porém fundamental, sustentou a legitimidade de todos os reinos verdadeiros: a comunhão de vida, essência e natureza entre o rei e seu povo. Para que alguém fosse reconhecido como rei legítimo de uma nação, não bastava força militar, riqueza ou autoridade política. Era necessário que esse rei compartilhasse a mesma origem, a mesma linhagem e a mesma natureza biológica com aqueles que ele governava.

Nas monarquias antigas e modernas, esse princípio se manifestava na exigência de que o rei fosse nascido do próprio povo — membro da mesma nação, pertencente à mesma família étnica ou tribal. Em Israel, por exemplo, Deus determinou claramente que o rei deveria ser escolhido “dentre os teus irmãos” (Deuteronômio 17:15), excluindo qualquer governante estrangeiro. A legitimidade real era inseparável da identidade comum entre o rei e a nação. Nos reinos da Europa, como na Inglaterra ou na França, a monarquia era herdada pelo sangue, e a disputa por linhagem era critério decisivo para o trono. Um rei estrangeiro, mesmo poderoso, não era naturalmente aceito, pois faltava-lhe essa comunhão de essência com o povo.

Esse padrão, visível nos reinos humanos, aponta para uma realidade espiritual ainda mais profunda: o Reino dos Céus. Para que Cristo fosse nosso Rei legítimo, era necessário que Ele se fizesse homem, assumindo nossa carne e sangue, nossa condição e limitação (Hebreus 2:14). Ele não veio como uma divindade distante ou um ser de outra espécie: veio como um de nós. Nasceu da linhagem de Davi, viveu como um verdadeiro homem, foi tentado como nós, sofreu como nós — mas sem pecado. Sua realeza não nos foi imposta de fora; ela brota de dentro da própria humanidade, pois Ele é o “Filho do Homem” — plenamente Deus, mas também plenamente humano.


Ao se encarnar, Cristo, que é eternamente Deus, passou a compartilhar também da vida, natureza e essência humana, unindo em si mesmo, de forma sublime, a divindade completa e a humanidade perfeita.

"E a palavra tornou-se carne e armou tabernáculo entre nós, (e vimos a Sua glória, glória como do Unigênito da parte do Pai), cheio de graça e de realidade" João 1:14

O POVO

O Rei já estava aqui, participando da mesma vida e natureza do povo, mas ainda não havia o reino dos céus, somente estava próximo, pois faltava ao povo também compartilhar da mesma vida e natureza do Rei. Por isso em Mateus 4:17, após o seu batismo, o Senhor Jesus passou a pregar e a dizer: "arrependei-vos, pois está próximo o reino dos céus".

E realmente estava próximo, muito próximo.

O Rei não somente se encarnou. Ele teve um viver humano modelo, perfeito, e nesse viver cumpriu todas as exigências da lei e a justiça de Deus. E não somente isso, ele foi levado à morte, a venceu, ressucitou, e se tornou o Espírito que dá vida. (1Co 15:45)

No ato da encarnação, Deus, o Rei, agora passou a compartilhar de forma perfeita e completa, na pessoa de Jesus Cristo, da mesma vida e natureza do povo. Restava agora ao povo também compartilhar de maneira perfeita e completa da mesma vida e natureza do Rei, porém não em divindade.

O novo nascimento

Aqui entra em cena o novo nascimento. No evangelho de João capítulo 3, Jesus declara a Nicodemos, um mestre entre os judeus, que ninguém pode ver e entrar no Reino de Deus sem nascer de novo.

O Senhor Jesus disse à Nicodemos que o novo nascimento é “da água e do Espírito”. Esse é um nascimento do alto, que concede ao homem uma nova vida, agora proveniente de Deus.

"O que é nascido da carne é carne; e o que é nascido do Espírito é espírito". (Jo 3:6)

No evangelho de João o Senhor Jesus disse que a todo aquele que o recebe é concedida a autoridade de se tornar filho de Deus. (João 1:12)

Ao se tornar o Espírito que dá vida, em João 20:22, já após a sua ressurreição, o Senhor Jesus sopra sobre os discípulos, aqueles que o receberam, a sua vida e essência, e disse-lhes: "recebei o Espírito Santo".

E assim, o Reino dos Céus vai além de qualquer modelo humano. Pois o Rei, além de compartilhar nossa natureza, também nos comunica a Sua vida — a vida divina. Pela regeneração, o povo do Reino recebe não só o governo de Cristo, mas a própria vida de Cristo. O Rei e o povo tornam-se, assim, uma só família, uma só essência, um só Corpo (Efésios 4:4). Não apenas Ele é como nós, mas agora, nós também somos feitos como Ele — participantes da natureza divina (2 Pedro 1:4), para assim compor o seu reino na terra hoje: O REINO DOS CÉUS! ALELUIA!

Apocalipse 1:5c-6
Almeida Revista e Atualizada

"Àquele que nos ama, e, pelo seu sangue, nos libertou dos nossos pecados, E NOS CONSTITUIU REINO, sacerdotes para o seu Deus e Pai, a ele a glória e o domínio pelos séculos dos séculos. Amém!

Apocalipse 1:5c-6
Almeida Revista e Corrigida

Àquele que nos ama, e em seu sangue nos lavou dos nossos pecados, E NOS FEZ REIS e sacerdotes para Deus e seu Pai, a ele, glória e poder para todo o sempre. Amém!"

O Senhor Jesus é o Rei e também é o próprio Reino, e para dentro de nós, que somos aqueles que o receberam, Ele dispensou a sua vida, como uma semente do Reino.

No tocante a isso precisamos perceber que a Palavra de Deus expõe dois aspectos do reino dos céus:

  1. A igreja hoje como a realidade do reino está sendo edificada, o corpo está efetuando o seu crescimento e o seu aumento, portanto, o reino hoje para nós é um exercitar. O reino dos céus hoje existe tanto em realidade, como em aparência.
  2. Na consumação da era, quando o Senhor Jesus voltar, e quando finalmente todos os reinos do mundo vierem a ser do Senhor e do seu Cristo, o reino dos céus, que hoje existe em realidade, será então manifestado, e aqueles que cresceram e amadureceram na vida do rei que lhes foi concedida, reinarão com Cristo sobre as nações no reino milenar.

Hino 478 do hinário EAV (Hinos LSM-1301):

1 Cristo, o reino, em nós veio entrar,
Para, em glória, reinar e brilhar;
Ele, em nós, qual semente entrou,
Em nosso espír’to Seu reino plantou.

Deixa-O crescer, deixa-O crescer;
Vida do reino vem viver.
Cristo em nós qual semente entrou;
Cristo, o reino, em nós se plantou.


3 A religião novamente o perdeu
Pois, com doutrinas e conceitos seus,
Em vão aguarda o reino existir
Só como dispensação que há de vir.


Deixa-O crescer, deixa-O crescer;
Vida do reino vem viver.
Cristo em nós qual semente entrou;
Cristo, o reino, em nós se plantou.



Hino 476 do hinário EAV (Hinos LSM-947):

1 Para nós o reino hoje é um exercitar,
Mas será galardão quando Cristo voltar;
Deus é sábio, pois nos faz hoje treinados ser
Pra Seu plano cumprir e a justiça manter.

2 Deus tornou-nos Seus filhos pra com Cristo reinar;
Sob o Seu treinamento podemos triunfar,
E aprender a, em Seu reino, reinar como reis,
Para ser Seu reinado expresso de vez.

7 Ó Senhor, nos dá a graça para o reino viver
E também ser treinados e o prêmio obter;
Faz-nos na realidade do reino andar
Para tê-lo qual prêmio ao se revelar.

Cântico C20 do hinário EAV:

Senhor Jesus, eis que virá dos céus,
Subjugará os inimigos Teus;
Teu reino, então, se manifestará -
Tu és Leão da tribo de Judá.

Como vimos, todo reino é composto por três elementos fundamentais: o rei, o povo e o território.

Até aqui, já identificamos dois desses elementos no Reino dos Céus:

task_alt O REI         task_alt O POVO

Agora, precisamos considerar a questão do território.


O TERRITÓRIO

O Reino de Deus: Vida Interior, Manifestação Exterior

O Reino de Deus é, ao mesmo tempo, uma realidade espiritual interior e uma manifestação visível e progressiva sobre a terra, cuja manifestação plena se dará no Reino Milenar, quando Cristo, juntamente com os crentes vencedores, governará sobre as nações (Ap 20:4,6), e cuja manifestação final e máxima se dará na Nova Jerusalém, o reino eterno de Deus (Ap 21:2).

O Reino não é um conceito abstrato nem um governo político terreno — é a vida do próprio Deus implantada no homem, expressando-se concretamente no mundo.

Jesus declarou que o Reino de Deus já havia chegado (Lucas 17:21), não com aparência exterior imediata, mas como uma semente plantada no coração dos homens. O Reino é o domínio de uma vida, e essa vida é a própria vida de Cristo. Essa vida divina é recebida no novo nascimento (João 3:3-5), quando o homem é regenerado e passa a participar da natureza do Rei — tornando-se, assim, verdadeiramente parte de Seu Reino.

O Reino começa como algo interior, mas está destinado a se manifestar plenamente. Cristo, ao enviar Seus discípulos por Jerusalém, Judeia, Samaria e até os confins da terra (Atos 1:8), não apenas indicou uma missão evangelística — Ele traçou um mapa de expansão territorial do Reino, por meio de pessoas que carregam Sua vida e expressam Seu governo.

O Reino de Deus avança territorialmente

Quando Jesus disse em Atos 1:8:

“...e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judeia e Samaria e até os confins da terra.”

Ele estava fazendo uma referência explícita a território, e mais do que isso: traçando um mapa da expansão geográfica do Reino de Deus na terra, por meio da proclamação do evangelho.

  1. O Reino de Deus avança territorialmente através da missão da Igreja.
    A ordem do Senhor Jesus mostra uma progressão: de uma cidade (Jerusalém), para uma região (Judeia), para uma região culturalmente híbrida (Samaria), até alcançar todas as nações (os confins da terra).
  2. A expansão geográfica é parte do plano do Reino.
    Em seu estágio inicial o reino entra como semente, oculta, para se desenvolver no coração do homem, mas progride para alcançar toda a terra, até que um dia "o reino do mundo se tornará do Senhor e do seu Cristo" - Apocalipse 11:15.
  3. Cada território alcançado se torna expressão visível do Reino.
    À medida que o evangelho alcança povos e nações, o território é “reivindicado” para Deus, pois pessoas ali passam a viver sob o senhorio de Cristo. Ainda que o mundo natural não seja totalmente transformado, a presença do Reino se estabelece ali.

Esse Reino se manifesta onde a vontade de Deus é feita “na terra como no céu” (Mateus 6:10). Ele se expressa em justiça, paz e alegria no Espírito Santo (Romanos 14:17), e transforma todas as dimensões da vida humana: relacionamentos, comunidades, culturas e nações. O Reino se espalha por meio da Igreja — o Corpo de Cristo — que vive debaixo do Senhorio do Rei e ocupa territórios com Sua presença.

Contudo, essa manifestação é progressiva. Estamos no tempo da semeadura e do crescimento (Mateus 13:31-33), mas a colheita virá. No fim, o Reino será plenamente visível: uma nova terra, habitada por justiça (2 Pedro 3:13), com uma cidade celestial — a Nova Jerusalém — descendo para a terra (Apocalipse 21:2). A consumação do Reino será tanto espiritual quanto física, celestial quanto terrena.

Assim, o Reino dos Céus é uma obra de dentro para fora: começa no espírito regenerado do homem e se expande para transformar a criação. Ele já está entre nós, e está vindo com poder. E nós, como povo do Reino, vivemos essa vida interior e ocupamos esse território, preparando o mundo para o retorno glorioso do Rei.

A promessa de Deus a Abraão e o estabelecimento do Reino

A história de Abraão marca um ponto decisivo na concretização do propósito eterno de Deus: estabelecer o Seu Reino sobre a terra.

Desde a criação, Deus formou o homem à Sua imagem e semelhança (Gênesis 1:26), com a intenção de que ele expressasse Sua glória e exercesse Sua autoridade sobre a terra. O homem foi criado para ser o representante de Deus, o canal através do qual o Reino dos céus governaria sobre a criação. No entanto, devido a queda e a crescente corrupção do gênero humano, a raça humana se afastou do própósito de Deus. A rebelião em Babel representa o clímax do esforço humano de construir um reino independente de Deus. Nesse contexto Deus chamou Abrão, ainda na Mesopotâmia, para sair do meio da idolatria e se tornar o início de uma nova linhagem — não apenas terrena, mas também espiritual — por meio da qual Deus pudesse exercer Seu domínio e e estabelecer Seu reino sobre a terra.

Nesse chamado, Deus faz três promessas fundamentais a Abraão:

  • Uma terra – um território físico para sua descendência (Gênesis 12:1).
  • Uma grande nação – muitos descendentes (Gênesis 12:2).
  • Bênção para todas as nações – por meio de sua descendência (Gênesis 12:3).

Mais adiante, em Gênesis 22:17, Deus amplia a promessa:

“Certamente te abençoarei e multiplicarei a tua descendência como as ESTRELAS DO CÉU e como a AREIA QUE ESTÁ NA PRAIA DO MAR...”
  1. Areia do mar – A descendência natural: Israel
    A “areia do mar” aponta para a descendência física de Abraão, ou seja, o povo de Israel, que recebeu a promessa da terra e da constituição como nação visível. Essa parte da promessa representa a dimensão terrena do Reino de Deus.
  2. Estrelas do céu – A descendência celestial: a Igreja
    As “estrelas do céu” apontam para os filhos de Abraão pela fé: aqueles que creem em Cristo. Essa é a descendência espiritual, a Igreja, composta de judeus e gentios que vivem sob o senhorio de Cristo. Esta é a dimensão celestial e eterna do Reino de Deus.

O apóstolo Paulo confirma essa interpretação:

“Se sois de Cristo, então sois descendência de Abraão, e herdeiros conforme a promessa.” – Gálatas 3:29

E também:

“Por isso também de um, e já amortecido, descenderam tantos, em multidão como as estrelas do céu, e inumeráveis como a areia que está na praia do mar.” – Hebreus 11:12

As promessas feitas a Abraão têm, portanto, dois aspectos inseparáveis: o terreno, que aponta para a formação da nação de Israel; e o celestial, que se cumpre em Cristo, a verdadeira semente de Abraão (Gálatas 3:16), e em todos os que n'Ele creem, os quais são feitos cidadãos do Reino dos céus (Filipenses 3:20; Mateus 5:3). Assim, o chamado de Abraão não foi apenas o início de uma história de fé, mas o início de uma obra divina para estabelecer o Seu reino e o Seu o governo celestial na terra.

A Igreja como a Descendência Celestial de Abraão — o Reino dos Céus

A igreja é a descendência celestial de Abraão (como afirma Gálatas 3:29: “E, se sois de Cristo, então sois descendência de Abraão, e herdeiros segundo a promessa”), e por isso ela é chamada de Reino dos Céus. Não apenas porque está ligada à fé de Abraão, mas porque é formada por aqueles que nasceram do alto (João 3:3) e pertencem a uma pátria celestial (Hebreus 11:16).

A promessa a Abraão incluía duas descendências:

  • A descendência terrena, como a areia do mar (Israel segundo a carne).
  • E a descendência celestial, como as estrelas do céu (a Igreja, nascida do Espírito).

A Igreja, portanto, é o cumprimento da porção celestial dessa promessa, e como tal, é o reino dos céus em realidade na terra hoje — um povo celestial vivendo uma realidade do alto, aqui e agora.

Como a Igreja é composta por aqueles que têm uma nova natureza celestial e pertencem a uma pátria celestial (Hebreus 11:16), ela é chamada de Reino dos Céus. O Reino dos Céus não é apenas um conceito abstrato ou uma ideia espiritual, mas é um reino real, com um povo real, vivendo na terra a partir de uma realidade celestial.

Assim, a Igreja, como a descendência celestial de Abraão, não apenas é parte da promessa feita a ele, mas é também a manifestação do Reino dos Céus, a expressão do governo de Deus na terra, até que a consumação desse Reino aconteça com a vinda gloriosa de Cristo.

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